︎



Inês Soares

(Portuguesa-  1976, vive e trabalha em Lisboa)


YONDER
AÍ ONDE


18 Agosto – 17 Setembro 2022


«Aí onde», nasce da dupla certificação de presença e lugar, mas também da ideia de um tempo corrente e de uma acção suspensa ou interrompida. Aí onde? Poderia ser pergunta. Ter a certeza.  Diluir o vago numa localização dita.

Ao resgatar esta expressão para nomear a sua mais recente exposição, Inês Soares reforça a ideia da gravura como território experimental onde se cruza tempo – do conceito e do fazer, do encontrar e revelar, do domínio e do acaso – e espaço – de intervenção, do gesto, do corpo, do diálogo para além da peça.

  «Yonder», também utilizada pela artista como nomenclatura do conjunto, é expressão antiga para “over there”. Para lá. Além. Mais distante. Longe?

Numa das suas reflexões sobre a ideia de lonjura, o escritor poeta italiano António Prete descreve-a como acção de “dar presença ao que é subtraído à presença”. Acrescenta que “pensar a lonjura é dar uma configuração e um ritmo ao invisível, uma língua ao inatingível. Acolher o extremo. Esse azar é a pulsão própria de todas as artes. A lonjura é o longe observado no seu movimento em direcção à representação, no seu tornar-se figura. O longe observado no tempo e no espaço do seu acampar.”[1]

Os termos utilizados na nomeação do conjunto que agora se apresenta, consubstancia o próprio sentido do que se vê: uma dezena de gravuras fabricadas a partir da manipulação do cobre, do tintar da matriz em sucessivas aproximações até ao descobrir da imagem final. Salvados do que parece ter uma temporalidade distante de achado arqueológico, mas sedimentada nos tempos de hoje, nos objectos de um quotidiano de todos reconhecível: um alguidar, uma taça, uma faca. Um copo flutua e o fundo parece parcelar-se num cem número de fragmentos. A grande peça suspensa na galeria é mesmo composta por pedaços recompostos. Um puzzle de grandes dimensões a cativar cores, variações de azul, pedaços de céu.

Por vezes o território da palavra riscada surge, com força, a absorver a memória de uma música ouvida, “Nem é o tempo que o faz”, um trocadilho de sentidos, “real lisa doira”. Outras apenas movimento, quase caligrafia, quase gesto. Flutuações de traços e enlaces. Nós. A criar ligações entre as imagens expostas.

Regresse-se ao início: yonder.  

Um distante quase perto. Uma distância palpável.

A distância do olhar.


«YONDER, aí onde: um SER saltitante chamado INÊS SOARES.

«Sim, esta é a sua primeira exposição individual.

«São gravuras, sim, mas também objetos de difícil classificação, o que joga a seue nosso favor.

«Há uma poesia e uma candura que parece brotar natural, doce e alegremente do seu SER saltitante.

«Onde está o Wally, digo, essa INÊS que parece não querer pousar em lado algum para melhor estar, sempre, ali, aqui, acolá.

«Certamente uma refrescante descoberta neste Verão tão inconstante quanto assustador mas que parece não conseguir perturbar uma poesia que escusa palavras para assim melhor poder entregar-se a um silêncio que só o coração conhece...»

Vitor Pomar, 15 Agosto 2022


«O papel e a gravura são o traço comum dos trabalhos apresentados nesta exposição, utilizando estes meios de várias formas e em diferente estado de amadurecimento.

«As gravuras lembram objetos achados e perdidos, numa gruta, num túmulo muito antigo, ou no quotidiano. São objetos que podem fazer parte de um kit de sobrevivência para uma mudança de casa ou para um piquenique…

«Estão vazios de sentidos e olham para nós com o seu próprio vazio útil.

«Acompanham o contínuo dia-a-dia da vida, onde param para existir no seu próprio tempo, e ganhar a distância presente do olhar.

«A colagem apresentada é feita com reaproveitamentos de papel das gravuras, surge da multiplicidade, proporciona a repetição e a remontagem dos assuntos. O todo pode ser uma nuvem ou uma pedra de múltipla formação geológica, que condensa, aglomera, multiplica, distribui.

«Os objetos em papel são estudos iniciais de um trabalho em curso, e têm em comum com o resto da obra a ideia de vazio e de conter. Por estarem presentes no local, a função do espaço transforma-se e desarruma-se para os receber, tão reconhecíveis e simultaneamente inusitados.»

Inês Soares




[1] Tratado da lonjura. Ensaio de Antonio Prete (traduzido por Andrea Ragusa e Sofia Andrade) in https://torpor.abysmo.pt/ensaio/tratado-da-lonjura/, consultado em Julho 2022.


Veja o CV da artista aqui.

Voltar


Mark