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O que me quero dizer


Desenhos a carvão sobre papel
RUN JIANG

Run Jiang começou a desenhar sonhos em 2012. Os seus sonhos. Um registo sistemático, feito em continuo e que se desenvolve a par dos outros projectos a que se dedica.  Mais do que a atracção pela bizarria dos enredos do inconsciente move-a um impulso identitário de revelação do mundo interior, do exercício da memória, da capacidade de cristalizar dessa quase possível realidade alternativa pequenos segmentos em que a história individual também se constrói.

Na presente exposição que reúne uma vintena de trabalhos, o título escolhido – O que me quero dizer - reforça essa vontade da artista levar a cabo uma pesquisa pessoal que dá voz a si própria nesse processo de autoconhecimento. Realiza cerca de dez imagens por ano e procura ser o mais fiel possível aos elementos de que se recorda ao acordar. Por vezes, simula a postura do dormir fazendo desse gesto performativo íntimo a espoleta de recuperação dos salvados da noite.

As cenas trazem à tona personagens que lhe são familiares: o marido, os pais, os avós, os amigos e colegas, o gato. E a par deles, Run Jiang representa-se também, nesse diálogo de estar fora e dentro do sonho em simultâneo. Porque esta é a sua perspetiva. Mas mais do que dos personagens, recorda-se das acções, de momentos muito precisos - como na imagem da mão ferida por um pionés - ou situações em curso – quando noutra uma rapariga que se levanta e caminha até à porta. Aqui a ideia desse tempo fluido transmite-se multiplicando a figura em posições diferentes, concentrando-se a narrativa numa só imagem.

Desenha com lápis de carvão e sempre com o mesmo tipo de papel. Recentemente trocou o traço expressivo do riscador utilizado sem auxiliares, pela certitude do risco amparado pela régua. E o papel escolhido passou também a ser mais denso.

O caracter miniatural, quase pueril, com que representa a figura humana, articula-se com a marcação constante de um espaço arquitectónico visto como esboço. É fundamental para situar os eventos mesmo que por vezes dentro e fora se confundam. Como nos sonhos.

Desenha o que se lembra, como se lembra. Por vezes surgem lugares que lhe são familiares: a casa dos pais, a sua casa, a universidade. Outras, sítios anónimos que se formalizam com a estranheza do que a memoria cristaliza. Numa dessas imagens, dominada pelo traçado de uma estrutura vazada, apresenta-se, o que parece ser um jogo entre homens e mulheres, enformado por um dispositivo de paredes e mesas onde se podem ver ovos e espermatozoides. E o publico assiste. “Junto-me às pessoas para ver o espectáculo. Os homens dançam virados para espermatozoides, e as mulheres têm à frente ovos de galinha”

O que para o espectador serão sempre histórias com as quais se pode ou não identificar, para a artista são lembranças reais dos sonhos que teve e reproduz, ancorando o desenho numa breve escrita que a auxiliam a relembrar o sonho cativo. E em títulos numéricos que indexam a memoria e a imagem no filão de uma cronologia.



Run Jiang nasceu em 1986 em Dalian, China. Licenciou-se em Cinema na Academia de Arte da China (2009) e concluiu o mestrado em Artes Plásticas com louvores do júri na Escola de Belas Artes de Marselha (2013). Foi-lhe atribuída uma bolsa de estudo pela MArt, escola e espaço de residências artísticas em Lisboa (2017-2018). Em 2017, foi selecionada para o prémio Amadeo de Souza-Cardoso (Portugal) e foi uma das nomeadas ao prémio FID (França).  

Vive e trabalha em Lisboa, expondo regularmente em Portugal e no estrangeiro. Destacam-se as apresentações no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, Quinta Magnolia-Centro Cultural em Funchal, Centro Cultural Emmerico Nunes em Sines e Museu Istituto centrale per la grafica em Roma. Os seus trabalhos integram colecções públicas e privadas, como as da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, Instituto Camões ou da Universidade de Roma "Tor Vergata”


Born in 1986 in Dalian, China. She graduated in cinema at the China Academy of Art (2009) and completed hers Masters in Fine Arts with jury praise at the Marseille School of Fine Arts (2013).

She was awarded a scholarship by MArt, a school and space for artistic residencies in Lisbon (2017-2018). In 2017, she was selected for the Amadeo de Souza-Cardoso award (Portugal) and was one of the nominees for the FID award (France).

She lives and works in Lisbon, exhibiting regularly in Portugal and abroad. Highlights include the presentations at the National Museum of Contemporary Art, in Lisbon, Quinta Magnolia-Centro Cultural in Funchal, Emmerico Nunes Cultural Center in Sines and the Istituto centrale per la grafica Museum in Rome.

Her works are part of public and private collections, such as those of the Art Library of the Calouste Gulbenkian Foundation, the Camões Institute or the University of Rome "Tor Vergata".



Veja o CV da artista aqui:


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