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Susa Monteiro

(Portuguesa -  1979)

Postais de lugar algum – Susa Monteiro

Susa Monteiro (Beja, 1979) criou este ciclo de imagens exclusivamente para a Tinta nos Nervos, as quais passam a integrar o acervo de obras em venda. A autora, com uma presença regular e celebrada nos mundos da banda desenhada, ilustração para a infância, ilustração editorial e campos da ilustração autoral, é uma séria herdeira de toda uma tradição de ilustração conceptual.

Se tomarmos em conta as maneiras como “traduzia” as crónicas de Lobo Antunes na revista Visão, como revelou a sua cidade natal no mapa-projecto da Pato Lógico, em que é menos importante a presença nas ruas reais e cartografadas que nos perdermos em novas descobertas, ou a maneira como tecia uma narrativa fantasmática no seu livro Sonho (também Pato Lógico), começamos a vislumbrar, sem nunca compreender na totalidade, os instrumentos que povoam o mundo gráfico da autora.

“Totalidade” é precisamente o que jamais ocorrerá nas suas imagens, pois elas estarão sempre abertas a um esforço interpretativo de quem observa e deseja nelas entrar. Não se tratam propriamente de enigmas, emblemas ou adágios como nas práticas renascentistas. Há algo que é devedor ao Surrealismo de um Paul Delvaux, ou à pittura metafisica de um De Chirico, mas numa prestação vívida, de figuras com grande presença, cores tropicais, e uma espécie de vergonha arrogante das suas personagens, se tal paradoxo for compreensível.

Este ciclo de 20 imagens, feitas a acrílico e guache sobre papel aguarela, parecem ser feitas sob o domínio da América, uma América mítica, ainda povoada por personagens inventadas nas ficções historiográficas da literatura e o cinema de género. Existem índios e cowboys, circos e rodeos de beira da estrada, as quais não têm fim, paisagens de desertos, aliens de Roswell e toda uma ménageriede animais que parecem ter mais do que o mero papel de representação das suas espécies: mustangs, coiotes, águias, rattlesnakes, e até dinossauros, cujo sangue de alcatrão tanto obceca o mundo contemporâneo. As cenas mostradas parecem retiradas de um qualquer livro por escrever de Southern Gothic (Flannery O’Connor, Cormac-McCarthy, DeLillo), com uns súbitos flashbacks para terrenos baldios nos arrebaldes de Los Angeles, onde a cultura thrashere loser tem os seus últimos estertores.

Veja o CV da artista aqui:


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Susa Monteiro

(Portuguese – 1979)

Postcards from no place – Susa Monteiro

Susa Monteiro (Beja, 1979) has exclusively created these images for Tinta nos Nervos, where they are publicly presented in a short-term exhibition and then are part of our art for sale inventory. The author, who is a recurrent and celebrated name within the worlds of comics, children’s illustration, editorial and auteur illustration, carries seriously many of the Western traditions of conceptual image-making.


If one takes in account the way Susa Monteiro “translated” António Lobo Antunes’ chronicles in Visão magazine, or how she recreated her city of birth in the Pato Lógico map, in which it is less important the cartography of actual streets than the possibility of discovering new locales, or the way she creates a ghost of a story in her own Sonho(“Dream”, also published by Pato Lógico), one starts to understand, without ever reaching it completely, the elements that constitute the author’s graphic universe.


“Complete” is exactly what will never happen in her images, for they will always be open to the observer’s interpretative effort, the desire to enter them. These are not exactly enigmas, rebuses, or emblematarom Renaissance times. There are connections to Paul Delvaux’ brand of Surrealism, or De Chirico’s own pittura metafisica, but in which the characters come to the fore as vividly as they can, in tropical shades and colours, in a sort of arrogant coyness, if such an oxymoron is conceivable.


These 20 images, made of acrylic and gouache on watercolour paper, seem to have been created under the aegis of America, but a still mythical America, populated by made up characters from the fictions of literature and genre cinema. We’ll find cowboys and Indians, circus and rodeo shows by the side of roads, and stretches of these same roads, leading nowhere. But there’s also Roswell aliens and a veritable ménagerieof animals that seem to be standing there for something beyond the mere representation of their own species: coyotes, bald eagles, mustangs, rattlesnakes, the biggest lizards you’ve ever seen and even dinosaurs, bleeding tar and petrol all over a world obsessed with them. These are scenes from a Southern Gothic book still to be written by the likes of Flannery O’Connor, Cormac-McCarthy or DeLillo, interrupted by sudden flashbacks to vacant lots somewhere on the outskirts of Los Angeles, where the last dregs of thrasher and loser culture go to die.


See artist’s CV 
here.


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