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Faire Semblant c’est mentir. 





Faire semblant c’est mentir. Dominique Goblet 136 páginas, cor; capa cartonada. 20,4 x 1,7 x 26,5 cm. L’Association. PVP 45,5€

O título revela de imediato a pista que nos permite entrar na problemática instituída pelo último livro de Dominique Goblet, a qual já anteriormente, com Souvenir d'un journée parfaite, nos lançara no campo da memória como, não um campo denso e sólido e seguro, mas antes um paul onde o solo desenha uma paisagem aparentemente heterogénea mas que pode subitamente ceder sob o nosso peso, ao pisarmo-lo (como, doutro modo, Gébé o fez). Faire semblant c’est mentir, “Fingir é mentir”. Etimologicamente, o verbo “fingir” associar-se-á a uma outra palavra de contornos muito contemporâneos que é “ficção”: ambos os vocábulos nascem de fingere, cujo significado antigo remete a uma acção, a de “dar forma”.
Souvenirs era uma “ficção”, co- ou inteiramente escrita por Guy Marc Hinant, mas que se se lançava no complexo território da autobiografia (leia-se o prefácio de Menu neste livro), ou pelo menos no da rememoração [uma questão: se é possível falar-se de autobiografia em banda desenhada no caso de livros escritos por um autor, por exemplo Harvey Pekar, que recorre a um artista para os desenhos, porque será confuso aceitar o contrário?]. Faire semblant é também co-escrito por Hinant, mas é antes um exercício daquilo a que se dá o nome de auto-ficção, no qual o autor empírico se coloca enquanto protagonista da diegese que apresenta, existindo várias linhas de divergência entre a “realidade” e o “universo diegético”. Obviamente, pouco (nos) importa explorar quais as divergências aqui presentes, o que nos impeliria para uma investigação biografista, que pouco nos preocupa e pouco nos auxiliaria a ler o livro. A questão é que esse estranho pacto (para repescar a expressão de Lejeune a propósito do pacto autobiográfico) é desde logo um acordo entre o leitor e a obra apresentada, e aceitamo-la precisamente por não apresentar quaisquer fronteiras acertadas entre uma coisa e outra: a nossa mente ricocheteia entre uma leitura de um “isto é verdade” e “isto é ficção”. Não se chega a qualquer remate, mas aí reside a felicidade da obra. O título, gritado por uma das personagens (uma complicada e traumatizada “mulher do pai”; e, como vemos no exemplo da imagem, representada somente nas linhas dos seus sintomas de ódio, intemperança e impaciência), fecha-se num julgamento moral e num desacerto em relação ao acordo indicado: fingir não é mentir, é dar forma a uma outra linha da verdade, que assim chega até nós. Mais tarde, a protagonista repete numa outra versão, e aplicada a uma outra realidade – as relações amorosas – onde o fingimento dá forma também, mas a fantasmas, os quais herdam um peso do qual há que nos alijar o quanto antes.

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